2024-06-21T02:16:00.000Z
Matheus Damião
É incrivelmente estranho fazer meu primeiro blog só agora que estou há pouco mais de um ano trabalhando como desenvolvedor e saí oficialmente a sala de aula.
Estranho porque minha graduação é em Letras, tenho alguns artigos publicados, já escrevi (muita?) poesia, mas nunca tive um blog antes. E nem me recordo de querer ter um blog antes.
A maior parte de tudo que eu escrevi está em cadernos de pesquisa, de poemas, folhas soltas, no google docs, -- o que faz com que o acesso a tudo isso seja bem privado. Só eu, minha noiva, meus cachorros (Franz já deixou algumas fraturas em livros), e, no máximo, meu orientador, tem acesso a eles.
Devo dizer logo que isso nunca foi um problema. Sempre levei a leitura e escrita como experiências íntimas e profundas pra mim. Fora que é bem típico na pós (de Humanas, é claro) ter cadernos de anotações que reúnem diversos textos, reflexões, estudos, ensaios, etc. Talvez grande parte dessa motivação de ter vários cadernos com anotações próprias e íntimas tenha origem no desejo (in)consciente de ser lido que todo acadêmico tem, mesmo --ou melhor que o seja-- no post-mortem. Afinal de contas quem já investigou cadernos e anotações de especialistas sabe o quanto pequenas notas nas bordas podem ser objeto de puro deleite.
No entanto, também é certo que muitos acadêmicos ou a galera de humanidades têm blogs e escrevem online em algum lugar. O que me faz concluir que eu faço parte daquela parcela que mantém 90% do iceberg de escrita no âmbito privado.
Só pra dar um exemplo pessoal, eu tenho um tratado inteiro de Aristóteles traduzido do grego antigo salvo em nuvem e no PC, sob o qual trabalhei por quase quatro anos, e que ainda falta revisão para só então ir para publicação.
E isso é um tanto comum na academia. Na área de ciências é pior ainda. Demora-se anos até se publicar um pequeno e único artigo.
Grande parte do motivo é que para se produzir conteúdo de qualidade (expressão essa muito abusada pelos influencers) é preciso muito estudo, pesquisa, investigação, colaboração, revisão, e isso não acontece em poucos meses, ou com um cursinho de 100 horas.
Para alguém que veio de Letras e depois de ter trilhado tanto tempo como professor e pesquisador, é bem estranho eu me sentir só agora compelido a escrever um blog.
Mas eu disse que era incrivelmente estranho, e não só estranho. O incrível é ter me decidido fazer isso a partir de um texto sobre aprender em público (#learninpublic), que me fez pensar muito e me ensinou bastante sobre a importância de documentar nosso aprendizado.
Desde que iniciei minha migração para T.I há 2 anos eu pouco organizei meus estudos. Cursos por vídeos no youtube, códigos de estudo e boilerplates pra um lado, e muito (talvez demais) foco na prática e menos na teoria, me guiaram até aqui. Aprendi a usar muitas tecnologias diferentes e graças a isso consegui criar muitos projetos do zero e entregar soluções que se adequaram bem às necessidades dos meus clientes.